terça-feira, 14 de outubro de 2008

Lentes cor de rosa


No início dos anos 80 ainda andava eu para fazer 5 anos e não sabia ler nem escrever e os meus conhecimentos sobre habitação resumiam-se ao facto de ver o Astérix com casa própria e o Lucky Luke longe da dele. Para o fim desses anos 80, altura em que os meus pais tinham contraído um empréstimo para construir uma casa em terreno que já nos pertencia, a minha compreensão resumia-se ao conhecimento de, perante um empréstimo com prestações progressivamente superiores, ao fim de 20 (ou seriam 25 anos?) os meus pais teriam de pagar 125 contos por mês para satisfazer o banco. Nessa altura pensava eu que até lá ainda nos sairia o totoloto e pagaríamos aquilo tudo. Claro que com 14 anos pouco mais poderia compreender.

Isto para dizer que é, às vezes, complicado entender onde quer o Eduardo Pitta chegar com estas tretas todas. Em 1980 só uma percentagem mínima teria acesso a um crédito à habitação. Vinte anos mais tarde temos que toda a gente, suponho que é isso que ele diz, o consegue.

Sim, é um exagero. Sim, não se entende como conseguem as pessoas contrair tais empréstimos se não sabem de onde virá o dinheiro para a alimentação daí a três meses. Sim, tiram cursos muito giros mas que não os vestem. Sim, os pais continuam a sustentá-los. Tudo isto é verdade. Só que o Eduardo Pitta parece ignorar (ele ignora muita coisa) que as pessoas terão que viver em algum lugar. E, para o fazer, terão que pagar por isso. Por último, parece ignorar ainda que as prestações de um empréstimo são, na maior parte das vezes, inferiores às rendas que tal residência custaria à bolsa de cada um.

Claro que o Eduardo se move num mundo de hóeis de cinco estrelas e de caviar, bem como de almoços no Gambrinus com garrafas de vinho a custarem mais que um almoço de restaurante de uma família de quatro pessoas. Isso pode explicar porque razão ele refere filhos (de outras pessoas) que compram apartamentos de três assoalhadas sem terem emprego. Falta-lhe a imaginação (ou talvez uma vivência) para saber que quem não tem paizinhos que assegurem tal empréstimo não chega a tal crédito. Ou que os bancos podem sempre ir buscar o apartamento, uma vez que em Portugal isso raramente lhes dá problemas.

Regabofe? Talvez, no que diz respeito a crédito para férias no Brasil ou para carros de luxo. Para casas? Caro Eduardo, experimente viver com o orçamento da maior parte da população e diga-nos depois aquilo que consegue de crédito. Nada? Pois, isso é de agora. Mas não foram os desempregados que lá nos levaram. Foram os empregados que comem caviar. Poor Horatio...

3 comentários:

Anónimo disse...

Bem dito!

JSA disse...

Gracias... :)

amok_she disse...

Raramente coloco comentários nos blogs, mais raramente ainda o faço para dizer simplesmente...CONCORDO!!!

Haja pachorra para tanta alarvidade vinda desta gente que se acha, lá no seu bem-bom, com direito a atirar pedras a quem já pouco ou nada consegue nesta vida, essa sim, de treta...de quem trabalha prós outros!