sábado, 5 de julho de 2008

A urgência


Uma das particularidades de ir envelhecendo (a partir dos 25, o termo crescer passa a ser desadequado) é a forma como se vê o tempo. O tempo passa a ser um parâmetro que, passando (ou passando nós por ele, na realidade espaço-temporal) cada vez mais depressa, deixa de ser fundamental e deixa de transmitir urgência. Há cada vez menos disponibilidade para o e começa-se a aceitar o em breve, até que o infelizmente nunca chega. Isto nota-se em crianças, que passam com cada vez mais urgência em fazer aquilo que desejam, que anseiam, ao mesmo tempo que vêem o tempo a passar devagar. Isto porque o tempo que percebem, o passado, é curto. Nos adultos e velhos, o tempo vivido é longo e cansa. A urgência decresce com o passar dos anos e com ela o desejo de fazer tudo aquilo que se pretendia tantos anos antes. Fica apenas o deleite de observar a pressa daqueles que ainda não o sabem.

PS - a fotografia é de Sergei Chilikov, encontrada aqui. Descobri-o pela foto da capa do álbum de Beirut, Gulag Orkestar.

Sem comentários: