quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dedicação laboral


Foi-me dito esta semana que sou muito dedicado ao meu trabalho. Tudo porque, por ter de partilhar uma peça de equipamento com um colega, decidi acordar às 5 da manhã para a poder usar o máximo de tempo possível. Não importa que a ideia seja também a de poder fazer horas extra e não ter que tirar a tarde de amanhã para ir de férias. Não, o facto de eu ter decidido acordar às 5 da manhã (uma hora mais cedo que o habitual) coloca-me como uma pessoa dedicada ao trabalho, o que, suponho, está a um passo de ser workaholic.

Até aqui nada de especial, não fora o facto de eu não querer ser visto como tal. Nada tenho contra workaholics, note-se (embora deles prefira guardar uma higieénica distância mínima), mas não gosto de ser considerado como tal. Por uma razão: não o sou. Sou, pela graça de nosso senhor Darwin, uma das pessoas mais abundantemente cheias dessa virtude fundamental chamada preguiça (as razões de ser uma virtude prendem-se com a conservação de energia, mas não me apetece falar de Evolução nem das Leis da Termodinâmica antes do almoço). Isto até poderia ser considerado um defeito, não fosse o facto de eu ter igualmente sido agraciado com abundante inteligência, a qual veio devidamente acompanhada com descaramento q.b.

Ora, com inteligência e preguiça, o que sucede? Habitualmente nada. Se surgir um toquezinho de talento, poderia tornar-me um escritor de renome, mas não é o caso. Assim sendo, sou um engenheiro que passa os dias de trabalho a ler coisas na net durante umas seis horas e a resolver brilhantemente o seu trabalho nas restantes duas, fazendo aquilo que outros fazem em oito ou mais. Pergunto então: chama-se a isto dedicação? Afinal de contas também tenho internet em casa. Mais, por lá ninguém me vai perguntar se este site com o título de Big Tits, Great Asses que aqui tenho na outra janela serve para pesquisa bibliográfica. Então o que me torna um tranalhador dedicado? A verdade é que não sei, o que me faz questionar a minha inteligência e o pressuposto de toda a minha existência paressiana. Isso obviamente, leva-me a concluir que este modesto sucesso profissional que consegui obter antes da idade de Cristo se deverá à minha dedicação.

O assunto é então um círculo vicioso (outros diriam virtuoso, mas não têm os meus conhecimentos de termodinâmica) de que não escapo. Não, não tenho desejo de ser workaholic ou dedicado. Apenas de ler umas coisas e pesquisar a secção de novidades não-siliconianas no Big Tits, Great Asses. Infelizmente, parece que tenho que voltar ao laboratório.

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