Cristo tinha 33 anos. Diz-se. Mas acabou a caminhada nessa altura. O Semanal também. O aniversário do seu autor parece ser uma altura tão boa como qualquer outra.
O fim do blogue. E das minhas postagens. Cansei-me disto.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Fim
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Vicente Moura e o COP
Leio hoje as críticas dos atletas a Vicente Moura (Presidente do Comité Olímpico Português) e compreendo. Os atletas são quem realmente representa Portugal. Caso não existisse COP, continuariam a existir atletas, pelo menos alguns. Caso não existissem atletas, não seria Vicente Moura a ir aos Jogos Olímpicos.
As críticas, ao que parece, não são minimamente subscritas pelos presidentes das federações de natação e de judo. São curiosamente duas modalidades que precisam do COP para funcionar. Neste jeito muito português, pergunto-me que mãos andam a coçar que costas aqui.
Já ler a entrevista de Vicente Moura ao Público é cair pelo buraco da Alice. Elenca a "obra" (palavra tão cara em Portugal), diz que não fala com os atletas (vê-se que resultados isso dá), é vaidoso (quer ser presidente do COP em 2009 por ser o ano do centenário) e fala nas já tradicionais "manobras políticas" (quando é candidato único).
Mais ao lado, diz que a bolsa para os atletas não é um ordenado só que, infelizmente, é precisamente disso que se trata. Sem a bolsa não conseguiriam ser atletas. Aliás, parece obcecado com a questão de nada se tratar de ordenados. Aparentemente, os 2500 euros mensais que recebe não são um ordenado, mas uma indemnização por não poder acumular as suas funções com o seu emprego anterior. Acho que começarei a chamar ao meu ordenado indeminzação por não poder acumular o meu emprego com o anterior, talvez assim não pague impostos. É até uma questão interessante: porque razão não se refere se Vicente Moura paga impostos sobre a tal "indemnização"?
Pelo meio diz que o planeamento com o governo para os jogos de Londres está dependente da entrega do relatório de Pequim. Se depois de uns quantos meses ainda não se conseguiu entregar um relatório, não me admiro que as coisas estejam mal organizadas.
No fim volta aos atletas para dizer que não se superaram e ainda fala no fuso horário.
Não sei se Vicente Moura fez muito ou pouco pelo COP, mas nada do que tenha feito é desculpa para se eternizar. Fez um mau trabalho e não deveria continuar. Pior: não tem o apoio dos atletas. E é isto que deveria ser o mais importante.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Um dia vazio
O feriado do 1º de Dezembro não me diz muito confesso. Na escola, a História de Portugal passava pelo período filipino a voar e acabava em 1640 com a "Restauração da Independência". Pouco era dito sobre como isso teria sucedido, as suas razões e consequências. Era normal, afinal de contas mais não éramos que miúdos. Só que, em idade adulta, pouco se fala sobre o assunto. Já na altura me parecia estranho que a Coroa Espanhola deixasse escapar tão facilmente uma jóia que incluía o resto da América do Sul e partes interessantes de África. Hoje, depois de ler este post do Rui Bebiano, vejo que nada foi assim tão fácil, que a independência não nasceu do nada nem o domínio espanhol caiu de podre.
E, sinceramente, é pena. Se me perguntarem se tenho orgulho em ser português, não serei capaz de responder. Gosto de o ser, mas apenas e só porque foi nesse país que nasci e cresci, foi a esse país que me habituei. Identifico-me com algumas das características portuguesas, talvez, mas essas serão partilhadas por 90% dos habitantes de países na orla mediterrânica. A minha maior identidade portuguesa vem de ver desporto em que intervenha Portugal e daquilo que poderei consumir à mesa. Se para o primeiro caso foi necessária alguma independência, para o segundo esta era indiferente.
Assim sendo, o 1º de Dezembro foi para mim, ao longo de vinte e cinco anos, apenas e só um feriado, um dia em que não precisava de ir à escola. Hoje, já com oito primeiros de dezembro vividos fora de Portugal, o dia não me diz rigorosamente nada. É vazio.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Back to type
Para os defensores de Scolari: a equipa mais cara do mundo perdeu contra os putos do Arsenal. Scolari perdeu em casa pela segunda vez esta temporada, quando Mourinho e Grant nunca o tinham feito e Ranieri tinha inaugurado uma era caseiramente invencível. Mais, em três jogos contra os adversários directos, todos em casa, o Chelsea ainda não venceu. Surpreendidos? Só para quem não prestou atenção a Scolari na selecção portuguesa. Nos jogos contra equipas grandes, Scolari raramente mostrava alguma coisa. ou, por outra, nos jogos em que não bastava ser um somatório de individualidades (porque os adversários não o eram), Scolari perdeu sempre. Mau táctico, mau preparador e, essencialmente, mau perdedor. O Chelsea está agora a descobrir isso. Só que não é de agora. Aliás, os ingleses têm uma boa expressão nestes casos: «Reverting back to type». É isso.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O melhor Bond?
Pergunta o Nuno Galopim qual o melhor 007. Ele coloca o inquérito na sua coluna da direita e tudo, mas não tem comentários, pelo que é votação sem debate, o que é algo como um molho de carne sem o estufado. Lá deixei o meu voto, no Sean Connery, mas não pude deixar a minha reflexão, pelo que a faço aqui.
Sean Connery é o melhor, como não podia deixar de ser quando se foi o primeiro e se "criou" a personagem do zero. Antes dele havia livros. Depois dele há uma figura. Como se fala em cinema, é quase impossível fazer dele o melhor. Especialmente porque foi, de facto, muito bom.
A questão, para mim, é quem será o seguinte na lista. Pessoalmente tenho dificuldades em escolher. Gostei muito de Pierce Brosnan, que também acho um belíssimo actor, mas foi prejudicado por filmes muito mauzinhos (especialmente a bosta do Die Another Day). O seu Goldeneye merece entrar directamente para a lista dos melhores Bonds. Já Daniel Craig apenas tem dois filmes no currículo (dos quais ainda só vi o primeiro) mas tem a vantagem de estar perante quase a mesmíssima situação de Connery: tem de inventar um personagem. Como Craig é inteligente, carismático e um fantástico actor, a coisa torna-se simples. Portanto, for Connery, eu apontaria para Brosnan ou Craig.
Quem viria a seguir? Tem que ser Timothy Dalton. É injustamente ignorado, mas foi agraciado com os mais disparatados argumentos (o segundo então...) e realizadores que não saberiam direccionar uma criança de três anos para a casa de banho. Era diferente de Moore. Menos engraçado, certamente, mas havia ali algo de muito masculino e muito intenso. Faz sentido dizer que Craig lhe segue a matriz. Já Moore, no seu tom engraçado, sempre me pareceu mais um geriátrico a fazer de agente secreto do que um agente invencível. Os seus filmes sempre me pareceram (à excepção de The Man with the Golden Gun) mais spoofs de filmes do que filmes a sério.
No fim, obviamente, vem George Lazemby. O rapaz pode nem ter tido culpa, mas a verdade é que ele é claramente o elo mais fraco do, talvez, melhor filme da série toda (à excepção do próprio Bond, pelo que a tese cai por terra). Tinha um realizador aclamado apenas como editor, mas que não foi mau de todo. O argumento era interessante e tinha o twist interessantíssimo do casamento de Bond, com a fascinante Diana Riggs. pena não ter recebido nova oportunidade.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Não
Levámos 6-2 do Brasil durante a madrugada. Não vi o jogo porque tenho mais que fazer. Depois de o Scolari ter conseguido ganhar-lhes duas vezes em dois jogos, vai o Queirós e leva esta abada. Claro que isto já vai servindo para muito boa gente perguntar se ainda há quem ande entusiasmada com o Queirós e se não terão saudades do Scolari. Respondo por mim, em duas partes.
1. Não, já não estou entusiasmado com o Queirós. Nunca estive, mas tive boas esperanças nele. Agora ainda imagino que consiga apurar a selecção para o Mundial e vamos a ver o que possa sair. Mas as esperanças por alguma coisa de jeito começam a desaparecer.
2. Não, não tenho saudades do Scolari. Nenhumas. Poderia ter sido 6-0 ou 8-0. Não tinha saudades. Poderia ter sido a Espanha, a Áustria, o Liechtenstein ou as Ilhas Maldivas e eu não tinha saudades. Poderia ter sido a liga das mulheres cegas e estropiadas e eu não tinha saudades. Não consigo ter saudades de um tipo que só tinha uma táctica e uma estratégia, era malcriado e depois de andar à pancada com os adversários ainda se desculpava.
Não é por termos um tipo pior que Scolari passa a ser bom. Há outros. Se Queirós não serve, que procurem outro. Mas não Scolari. No dia em que Scolari voltar à selecção portuguesa, aí sim, eu deixo de apoiar a "equipa das quinas".
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
O jogador de anúncio
Andam muitos sportinguistas angustiados com o caso "Vuk". Duas notas me ficam por deixar sobre este caso. Uma é a questão do nome. O rapaz chama-se Vukčević (deve ler-se algo como Vuctchévitche) e o nome em cause é um patronímico. Ou seja, no passado houve alguém que era nome de um homem cujo nome próprio era Vuk. Chamarem Vuk ao Simon é o equivalente a dizer que um Armando Gonçalves é o "Gonçalo".
A outra nota tem a ver com a confusão que muita gente faz da profissão de futebolista. Deixem-me dizer isto com cuidadinho: não é como as outras!, ou seja, os profissionais e empregadores não são como os outros. Isto dever-se-ia compreender facilmente quando se vê que gente que passava os recreios enfiados no canto da sala com um chapéu de burro na cabeça anda a ganhar por mês aquilo que muita outra gente ganha ao fim de uns dois a 10 anos (falando dos burros que até nem ganham muito e dos espertos que até nem ganham pouco).
No futebol, quando um empregador (leia-se: clube) precisa de um novo funcionário (jogador) para uma determinada função (posição), não contacta o Expresso Emprego ou o Monster.com e deixa o seu anúncio de emprego. Vai à procura dos jogadores que precisa. Pode exigir umas coisinhas como profissionalismo, dedicação, entrega, etc, mas o que conta no fim é se o rapaz marca, passa, defende - ou seja lá o que for - bem. E é aqui que não faz sentido crucificar o Vukčević. Ele é dos poucos jogadores que não entra num campo para trabalhar (seja lá isso o que for). Ele entra para jogar. Não lhe peçam para fazer marcações, recuar no terreno, recuperar bolas ou andar a correr na pressão alta. Tretas. Entreguem-lhe antes a bola e ele tratará de, se estiver em dia bom, resolver um jogo.
Se quiserem, podem comparar isto com um trabalho criativo. Conheço gente, engenheiros de bom nome, que passam dez horas por dia em frente ao computador da empresa. Destas dez, trabalharão realmente umas três ou quatro, se estiverem em bom dia. O resto passam a brincar com uns joguitos, a ler uns e-mails, a conversar no messenger, a blogar, a ler jornais, etc. Mas, e aqui é que está a coisa, eles são a razão de uma empresa ser lucrativa. Não é com os outros marialvas que trabalham efectivamente as oito horinhas por dia, sem parar e com disciplina morfeo-liberal. É com os que não fazem um pevo em 70% do tempo.
Poderão dizer que estes criativos produziriam muito mais se trabalhassem os tais 70% do tempo mas, e aí é que está, isso seria falso. Se eles fizessem sequer um esforço para estar a trabalhar concentrados 100% do tempo, seriam iguaizinhos aos colegas do lado. Produziriam, mas o mesmo que os macacos amestrados do open-office sem ar condicionado. Trabalhando apenas uns 30% do tempo conseguem realmente ser criativos. É por isso que não são habitualmente contratados por anúncios, antes são convidados pelas empresas. É por isso que não têm os chefes a perguntar-lhes o que andam a fazer, antes são deixados em paz. Porque os chefes sabem que o que sair vai ser precioso. Precisamente como com os criativos do futebol.
Paulo Bento não entende isto. Não é culpa dele. Ele era um daqueles funcionários básicos que se encontra nos anúncios. Melhor que os outros, é certo, mas apenas um mais. No Sporting dele até poderia ter contratado metade da equipa por anúncios de jornal. Não brinco, é verdade. Bastar-lhe-ia ter dois ou três de qualidade real no resto do plantel. Vukčević é um deles. Daqueles a quem não se pode pedir que faça nada mais do que aquilo que sabe fazer: inventar coisas que mais ninguém sabe. E Paulo Bento não tem desculpa. O director desportivo Pedro Barbosa era igualzinho, se bem que sem pêlo na venta. Isto deveria ser compreendido para as bandas de Alvalade.
Infelizmente, com Paulo Bento ao leme, ainda se verá no jornal do Sporting o seguinte anúncio:
«Procura-se médio criativo. Deve ter resistência física, capacidade de choque, bom passe e ter espírito de equipa. Deve dar prioridade à correria em vez da invenção. Deve ser capaz de marcar uns golinhos de tempos a tempos. E ser bastante obediente. Responder ao número 26 deste jornal e pedir para falar com o Sr. Bento».
PS - pergunto-me o que diria esta malta. Especialmente estes dois.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Regresso ao país normal
Os professores vão manifestar-se em Lisboa, na Madeira há um deputado que é impedido de entrar na Assembleia Regional, um aluno agrediu uma professora por causa de um telemóvel e Portugal volta ao topo dos casos de SIDA e toxicodependência.
Obama ganhou. A América mudou. Portugal mantém-se na mesma.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Notas sobre os resultados das eleições americanas
1. Obama venceu. Não por causa da economia. Ganharia, muito provavelmente, sem este meltdown. A economia apenas garantiu a vitória folgada. A vitória em si veio de uma campanha inovadora, activa e inventiva. Bem organizada e sempre com as decisões correctas. Foi aqui que Obama venceu.
2. A derrota de McCain foi a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido. Assim, volta ao Senado, com o mesmo respeito dos democratas e ainda maior respeito da parte dos republicanos. Será um líder incontornável e será extremamente útil a Obama.
3. Anseio por ver Sarah Palin a concorrer às eleições de 2012, como pretendem os seus apoiantes. Será reduzida à sua insignificância de candidata a viver da direita conservadora e radical e não passará das primeiras primárias. E acabar-se-à esta parvoíce.
4. Obama vai ter que cortar em muitas das suas promessas. Não tenho muitas expectativas em relação à sua presidência, pelo que tudo o que venha a fazer de forma diferente de Bush será uma vantagem. A diferença estará aí, na atitude. E a mudança começará também por esse lado.
5. A razão para a esquerda gostar de Obama tem tudo a ver com a sua cor e as suas origens e o seu percurso. É por não ser possível ver tais personagens na política europeia que Obama fascina. Porque representa aquilo de que os europeus gostam na América.
6. Prevejo um decréscimo nas audiências do The Daily Show a partir do momento em que Bush saia da Sala Oval.
Hagiografias de jornal
Enquanto esperava para descobrir quem sucederia a Bush, Rui Ramos, como bom historiador, foi tratando de ir escrevendo a história passada. Ou melhor, de a reescrever, ao melhor estilo estalinista. Primeiro escreve:
«1993 e 2001, Bill Clinton dera aos americanos uma das suas mais agitadas e controversas presidências (a destituição de 1998, repetidas operações militares nos Balcãs e no Iraque, a desastrosa invasão da Somália, etc.)»
Ignorando que Clinton só foi submetido a um processo de destituição por causa de um Congresso e um Senado que estava dominado por fanáticos enraivados de espuma na boca e que se agarrariam a qualquer pretexto para tentar apear o homem que lhes estragava o legado de destruição da economia. As operações nos Balcãs (e até sou parcial neste assunto) foram também responsáveis pelo fim da guerra civil na ex-Jugoslávia. A Invasão da Somália foi desastrosa, realmente, especialmente se vista perante o sucesso estrondoso da invasão do Iraque. Depois temos:
«Esta presidência [de Bush] sem grandes objectivos ou distinções naufragou no dia 11 de Setembro de 2001»
Ou seja, no dia em que conseguiu aumentar a sua popularidade a níveis estratosféricos, viu a presidência que pretendia «acalmar e reunificar» naufragar. Isto na altura em que o país mais unificado se apresentou desde... talvez Pearl Harbor. Parvoíces completas. Mais à frente vem a parte:
«nem o subprime nem a "mudança de regime" no Iraque (decidida por Clinton) começaram com Bush»
Ou seja, Clinton é que começou tudo. Clinton aparentemente decidiu a mudança de regime no Iraque (pena ter esperado até ter saído da presidência para a implementar, isto dos factos é tramado). E Clinton, supõe-se, terá iniciado a crise do subprime. Hmm, talvez não. O Fannie Mae foi criado em 1938, por isso será culpa de Roosevelt. Era convenientemente um democrata e tudo.
Estas foram as partes de reescrita. Só que ainda ali andam delírios. Aparentemente Rui Ramos também viu a esquerda (e o mundo, que se crê ser a mesma coisa naquela cabeça perturbada) culpar o pobre do Bush por «[g]uerras, furacões, as temperaturas médias do planeta, bancarrotas bancárias - tudo, sem excepção». Conviria relembrar que Bush, sendo o presidente da maior potência mundial, a única superpotência (na altura até havia referência a hiperpotência), teria certamente responsabilidades no que se passasse à sua volta. E dessas culpas, analisemos: as guerras foram por ele iniciadas. Creio não haver contestação. Ninguém o culpou pelos furacões, antes pela resposta inacreditavelmente ridícula a um deles. As temperaturas médias do planeta já vinhama subir, culpa de todo o mundo. O que Bush fez foi ignorar o assunto para proteger os amigos que o financiaram. Nalguns lados isto poderia ser chamado de corrupção. Das bancarrotas bancárias, a bem dizer, foi responsável. Houve uma, do Lehmann Brothers. Buhs e a sua administração decidiram deixá-lo cair. Foi, portanto, responsável.
Pelo meio deste texto inacreditavelmente estúpido (ou a fazer os leitores de estúpidos), ainda diz:
«não é fácil imaginar alguém mais adequado para o papel de bode expiatório universal. Sem brilho e sem eloquência, incapaz de argumentar para além das frases prontas-a-dizer, parece, no entanto, ter sido capaz de se impor aos seus conselheiros e de decidir entre pontos de visto opostos. Foi assim fácil submetê-lo, ao mesmo tempo, a todo o menosprezo e a todas as responsabilidades»
entrando no ridículo de dizer que é capaz de se impor aos conselheiros (como Cheney?, e não se riu ao escrever isto?) mas deixa-se submeter aos menosprezo e às responsabilidades.
Rui Ramos não tem vindo a acertar uma. A azia da vitória (que já era previsível) de Obama deve-lhe estar a fazer mal ao cérebro. Este texto vem demonstrar que Rui Ramos não só é incapaz de não escolher um lado como também é incapaz da mais básica objectividade. Espera-se pela hagiografia de Bush, onde será colocado lado a lado com Lincoln no panteão americano. E Rui Ramos será o apóstolo.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Colher de humor
Diz o Tiago Oliveira Cavaco que o humor é sobrestimado (prefiro esta designação à inglesa overrated). Pelo menos na vertente do fazer pensar. Concordo e discordo. Concordo porque é difícil fazer humor inteligente, daquele que estabelece a sua posição, mostra a gag e ainda deixa espaço para pensar. Como exemplo, vejam-se os Gato Fedorento dos tempos da SIC Radical, com as suas piadas de fácil compreensão mas com a aberta final para o «hmm, será que é mesmo assim?...» de dedo no queixo, testa enrugada e olhos desfocados enquanto se vasculha a memória. Os Gato Fedorento da RTP e da SIC generalista já são mais apontadores, fazedores de opinião e menos interrogatórios. São, como já li por aí, mais Contra-Informação e menos Monty Python.
Por outro lado discordo no sentido em que o humor, mesmo longe do nível acima referido (GF da SIC-R e Monty Python), pode ajudar a pensar. Uma piada bem colocada, mesmo que não sendo de enorme nível, pode ajudar a engolir uma verdade e olear o processo de pensamento. É a piada de café, que acompanha observações mais pertinentes. De certa forma é a colher de açúcar que faz o medicamento descer. Mary Poppins dixit.
Vinda do jantar
No início, Manuela Ferreira Leite andou desaparecida. Não se ouvia, não se via, não se lia. Agora, ao reaparecer, não diz coisa com coisa. Faz lembrar aquelas pessoas que, depois do jantar e a caminho do café, não são vistas por duas horas para reaparecerem, já no bar, meio embriagadas, na companhia de dois ou três passarões suspeitos e sem dizer ou fazer nada que se aproveite.
Adenda ao post anterior
O ponto que não subscrevo é a parte de Obama ter provado que era a escolha certa. Concedo que o foi como escolha para candidato. Discordo, à falta de argumentos mais concretos - leia-se, provas dadas na Sala Oval - que seja melhor escolha para presidente, especialmente num congresso dominado pelo Partido Democrata. A verdade é que nunca o saberemos.
Citação
«Se não acontecer nenhum imprevisto, Barack Obama será eleito amanhã Presidente dos Estados Unidos. (...) Por certo a sua administração não será o toque de Midas: a guerra vai continuar, Guantánamo não fecha com um estalido de dedos, não acredito que o Patriot Act seja revisto em profundidade, a economia não volta tão cedo a ser o que parecia ser, etc. (...) Isto dito, reiterar que nunca escondi a minha predilecção por Hillary Clinton, mas foi ele o nomeado, e os últimos três meses de campanha provaram que foi a escolha certa. Por interposta Sarah Palin, uma hipotética vitória dos republicanos faria a era W. parecer um quadro de Watteau. Agora só falta os eleitores americanos concordarem com isto. A ver vamos»
Por Eduardo Pitta. Posso subscrever (quase) tudo.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Quem poderia julgar?
A K. é sérvia. Está para fazer 30 anos, o que significa que viveu através da guerra civil e dos bombardeamentos da NATO. Falar com ela sobre o mundo e sobre política internacional é ouvir um desfiar de um novelo de cinismo conquistado ao ritmo das bombas. Falar sobre política interna é ouvir as histórias, documentadas ou rumoradas sobre corrupção endémica, abusos de poder e uso de violência. Segundo ela, não há um único político no mundo que não seja corrupto ou vítima de corruptos. Cinismo é, portanto, uma forma de estar.
Não é de estranhar. Apesar de ter vivido em Belgrado toda a vida, tendo escapado ao pior da guerra civil, viu amigos, colegas e vizinhos a morrer nesse período. Ela própria ficou mais que uma vez a poucos minutos de ser um dano colateral na campanha de bombardeamento da NATO. Vendo a história do país, também não se estranha. O avô movia-se no mercado negro durante a II Guerra Mundial como um gato vadio num beco escuro. A mãe é uma enguia na burocracia sérvia, usando amizade, simpatia ou simplesmente carisma para ultrapassar os obstáculos oficiais.
Talvez por isso seja curioso que ela fale no exemplo do pai, um respeitado engenheiro num prestigiado instituto nacional. Num país onde tanta gente usou as suas posições na sociedade para se auto-promover e beneficiar a sua família e amigos, o pai da K. manteve-se sempre honesto e recto, incapaz de prejudicar outros só para que a sua família vivesse melhor. Não que vivessem mal, note-se. Apenas, mediante tais possibilidades que o pai da K. tinha devido à sua posição, poderiam viver muito melhor. Como a elite, talvez.
Mas não o fez. A integridade dele foi sempre inabalável ao longo destes anos. E daí decorre a pergunta: num país como este, em que tanta gente foi prejudicada sem o merecer, onde tanta gente beneficiou de privilégios sem esforço, onde pequenas acções menos legais ou morais podem melhorar imenso a vida, quem faria o mesmo? A pergunta não surge para o alcandorar a um pedestal de autoridade moral. Antes serve para questionar. Porque eu não conseguiria criticar quem fizesse uma ou outra coisa. Ou melhor, seria capaz de criticar de igual forma ambas as posições. Mas isto seria da minha posição exterior. Eu não vivi aqueles tempos. Eu não conheço as circuntâncias. Eu não posso julgar.
Quem diria o mesmo?